quarta-feira, 19 de maio de 2010

Malabarista de distâncias.



Malabarista de distâncias. Equilibrista de mim mesma.
Mergulho nas minhas profundezas e vejo: debatendo-se no fundo, minha alma acorrentada. Meu coração partido. Minhas mãos distorciadas. Meus pés cansados. Minha boca silenciada... Meu passado fantasmagórico, deliciosamente incomum. Minhas perdas. As pessoas que se foram e que eu amei, intensamente. E os sons que eram meus.
Mais Fundo...Mais Fundo...Mais Fundo...
E o meu corpo despedaçado. E meus dedos desfigurados. E minha voz emudecida. E as mentiras me machucando feito sanguessugas, drenando meus desejos a cada latência. E os olhos fechados.Lá bem no fundo . Os sonhos amputados. A adolescência amputada,congelada e frágil. Um movimento e ela se parte. Nada mais é como era. Nada mais tem aquela mobilidade estimulante, nada mais traz de volta o que eu costumava saber ser.
Atrevo-me... Mais fundo.. Mergulho... Numa semi-consciência em que tudo em mim adormece. E passam por mim as pessoas, as imagens, as cenas, os erros, os desacertos, as desilusões, os abandonos, os amores , as quedas, os nãos , os medos, as incapacidades, tudo o que eu renuciei para que a vida seguisse sua meta misteriosa.
Mas eu sigo...
Além...Além...Mais ao fundo...
E bem lá na minha maior profundeza é que me encontro. Iluminada pelo que resta de mim depois que me dispo da minha vida.Isso que fica sou eu. Nua. Inevitável. Minha escuridão e minha luz, misturadas num caos absoluto e aconchegante. E as respostas dançam em circulo ao meu redor, redemoinhos em espiral, eternamente infinitos.
Então era isso! Essa sou eu.
Nas minhas profundezas eu me acho de novo. Enfim,estou viva!
E uma voz susurra:"Volta! Volta que tudo que te resta é o teu quase-existir na superfície de si mesma. Volta! Deixa guardados aqui a tua escuridão prufunda, o teu caos enfurecido, o teu amor amargo, doce,erótico e manso, a tua alma repleta e perfeita. Estará tudo sempre aqui, preparado pro teu próximo mergulho, pro teu próximo encontro consigo mesma. Vai! Emerge. Vê! Há algo além da fronteira do quase-fim de si mesma."
Além da profundeza em que te encontro, pra lá do fio tênue que sustenta o meu amor e a minha existência, existe o possível e o impossível. Existe tudo que o mundo ressuscita!
Malabaristas de mergulhos. Equilibrista de mim mesma.
Eu volto pra mim. Respiro o mundo de novo.
Sou o meu quase.
E o meu segredo (in)confessável jorra do meu corpo, sagrado e novo.
Eu te vi nesse mergulho. Eu te sinti nesse porvir. E sigo te vendo. Agora presente.
E o que eu sou se abre por inteiro para receber-te.
Vulnerável. Fortaleza. Complexa. Enigma.
Eis-me.


E o silêncio derrama-me teu nome.


Van Luchiari

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